domingo, 17 de março de 2013

As três décadas de Sandy Leah

E eis que, sem que ninguém sequer esperasse, a jovial Sandy, talvez um dos nomes mais destacados do pop nacional contemporâneo, completou suas três décadas de vida. É certo que, mesmo oficialmente balzaquiana, ela mantém aquele mesmo rostinho angelical, doce e delicado, com um ar de ninfeta misteriosa que ainda mexe com os brios de marmanjos do Oiapoque ao Chuí – e, óbvio, faz publicações masculinas como a revista VIP continuarem insistentemente tentando ter a moça em suas páginas, por mais coberta que seja. Que ela é e continua linda, ninguém precisa mais dizer. É interessante perceber, no entanto, que agora que está separada artisticamente do onipresente irmão Junior, sua trajetória musical vem diferindo tristemente muito pouco de seus últimos anos cantando na dupla.




É bom que se diga, antes que recaia sobre a coluna algum tipo de acusação de preconceito: Sandy Leah tem uma voz invejável, goste você ou não do repertório que ela interpreta. A moça tem uma afinação surpreendente, um tom gostoso de ouvir, um alcance considerável. Cantora experiente, ela sabe fazer com a voz muito mais do que muitas de suas inspirações mais velhas jamais sonharam, forçando-as a esconderem as cabeças na terra como avestruzes envergonhados. Mas, diabos, o que a filhota do Xororó anda fazendo com tamanho potencial vocal, ah, meu camarada, isso são outros quinhentos.

Recentemente, ela foi a convidada especial em um dos episódios do programa Legendários, da Rede Record, comandado por seu ex-colega de Rede Globo, Marcos Mion. Uma das muitas brincadeiras propostas para a cantora foi justamente que ela interpretasse faixas de outros artistas – como Legião Urbana, Lulu Santos, Michael Jackson. Tudo muito bonito, tudo muito bacana, tudo muito correto. Mas ela acabou fazendo com que todas as canções, sem exceção, soassem exatamente iguais, limpinhas e dançantes, como se tivessem saído do último disco de inéditas da Sra.Lucas Lima, Princípios, Meios e Fins. Sim, ela aprendeu a deixar as músicas com sua marca, com sua assinatura particular. Mas também aprendeu a incorrer em um vício bastante comum dentre os principais artistas pop: a arte da pasteurização. E isso não é apenas perigoso, como também bastante chato.
Seu novo single, “Aquela dos 30”, é uma música que dá para chamar de bonitinha, simpática até. Fofa, se me permitem. O clipe é gracioso, divertido, envolvente. Mas, culpem-me por ser exigente demais, juro que fiquei esperando desta Sandy mais velha, mais madura, pós-Junior, alguma coisa um tantinho mais ousada. Claro, não que eu tivesse qualquer pretensão de vê-la cantando heavy metal ou fazendo um pop rasgado rebolativo-dançante a la Rihanna ou Beyoncé. Mas confesso que esperava dela, em seu trabalho autoral, uma vontade de flertar com as divas musicais do jazz, da soul music e do blues com as quais ela tanto se identificava e às quais ela sempre fazia questão de homenagear neste ou naquele show especial. Talvez um tantinho de MPB, um bocadinho de bossa nova? Não seria de todo mal.





Todo mundo sempre acusou Junior de ser a metade sem talento da dupla – e justamente por isso o maninho da Sandy tenha preferido se dedicar ao seu lado produtor musical. Mas, cá entre nós, ele não ficou só nisso: ao lado de Champignon, do Charlie Brown Jr., assumiu o lado baterista e sentou o braço em uma banda de rock de vida curta chamada Nove Mil Anjos. Novamente, sem fazer qualquer juízo de valor com relação à qualidade musical do projeto, não dá para negar que foi uma aposta de Junior em um território no qual não estava acostumado. O mesmo vale para o seu atual projeto eletrônico, o Dexterz. Estamos falando de um Junior que, se tem menos talento do que a irmã, pelo menos tem mais disposição em se arriscar. Para este que vos escreve, esta é uma característica musical das mais louváveis. Talvez mais até do que uma voz invejável.









CRÉDITOS: JUDAO - 88 FM

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